Os Quenianos seriam bons triatletas?

Desde que o vácuo foi implementado no triathlon, no início dos anos 2000 (ou no final dos anos 1990), surgiu um certo ditado que exemplifica a dinâmica da prova: “Quem não nada, não compete. Quem não corre, não ganha!”.

A prova de Triatlo dos Jogos Olímpicos de Londres reforçou a idéia que pra vencer você tem que correr bem. Essa regra foi levada ao extremo, já que os 3 primeiros colocados no masculino correram os 10km abaixo de 30min. Com essa extraordinária performance, alguns comentaram que o triathlon poderia virar uma prova de quenianos. Já que eles tem o biotipo perfeito para a corrida e tem dominado as corridas de fundo (e meio fundo) no mundo todo.

 

Os quenianos seriam bons triatletas?

A pergunta é boa, mas para responder temos que levar em consideração algumas coisas.

Em Você sabe o seu corpo ideal para competir? (veja também a parte 2 do artigo), discuti as características físicas dos atletas de diversas modalidades.

Nos artigos em questão tentei mostrar que os triatletas são atletas híbridos, e que se competíssem em uma modalidade só, não seriam tão bons, se comparados com os seus amigos de um esporte só.

Em relação aos nadadores os triatletas são mais baixos e menos musculosos. Em relação aos ciclistas, os triatletas são mais pesados e menos músculosos nas pernas. Já em relação aos corredores, os triatletas são mais altos e mais pesados. Entende?

Alguns podem até argumentar que numa prova de Ironman, onde a natação supostamente conta menos e a corrida conta relativamente mais do que em um triathlon olímpico, os quenianos poderiam fazer a diferença. Mas isso também já foi testado.

Em 1998, um técnico realizou em Nairobi (capital do Quênia) um workshop de triathlon para tentar buscar talentos para as olimpíadas de Sidney 2000 (a matéria foi publicada na edição de Maio/junho de 2011 da revista Inside Triathlon), onde o triatlo faria sua estréia nos jogos olímpicos. Na época  Kevin Schwieger pensou, “Bons corredores, frequentemente se tornam bons triatletas. O Quenia, produz bons corredores. Portanto o Quenia pode ser capaz de produzir bons triatletas”. Certo? Errado!

Schwieger, selecionou 2 joves corredores que na época, apesar de novos já conseguiam correr a maratona em menos de 2h30min.

Após 4 anos de treino, os 2 selecionados participaram do Ironman Wisconsin, e ao contrário do que se achava, os 2 tiveram performances bem medianas, marcando performances na casa de 12h de prova (com parciais na maratona de 3h16).

Apesar de muito bons, os tempos de corrida para os padrões do triathlon, o tempo de corrida ficou bem acima de seus melhores tempos, além do tempo total de prova não ter sido nada excepcional.

A explicação para isso mais uma vez está nos corpos dos atletas

O corpo do Corredor e o corpo do Triatleta

O exemplo acima dos quenianos, mostra que apesar de seus corpos os tornarem capazes de correr muito rápido, os mesmos corpos não eram capazes de realizar performance similar após terem nadado e pedalado.

Isso mostra que o corpo dos corredores puros pode ser deficiente em força nos membros superiores (para nadar bem) e nos quadris (para pedalar bem). Mas o mais interessante de tudo é que no triathlon temos observado que os corredores puros que se aventuraram no triathlon, não só nadavam pior que os melhores nadadores do esporte, pedalavam pior que os melhores ciclistas mas muitas vezes também corriam pior que corredores com tempos piores do que os deles.

Em 2010, um grupo de pesquisadores publicou um estudo que descobriu que a mecânica de corrida era alterada após o ciclismo (e a natação), fazendo com que a técnica de corrida dos triatletas fosse alterada durante a prova. E que os melhores corredores no triathlon, nem sempre eram aqueles que possuim os melhores tempos de corrida pura.

 

E isso é verdade, nos tempos que eu treinava que nem gente mais sério, sempre conseguia fazer alguns dos melhores tempos de corrida da prova, mesmo competindo com pessoas que tinham tempos de corrida melhores do que eu. Isso talvez estivesse relacionado com minha maior economia de movimento, que me permitia correr no triathlon  tempos muito próximos dos meus melhores tempos de corrida em pista.

Embora as explicações para essa razão não estejam ainda totalmente explicadas pela comunidade científica, observamos os atletas com mais tempo de treino no triathlon, apresentando menos alterações em seus padrões de movimento.

Essa explicação ainda vai longe, pois os atletas não só estão correndo melhor, mas também nadando e pedalando mais rápido também. Se compararmos os tempos da prova teste do triathlon de Londres (em 2011), com os tempos da prova olímpica, veremos que em 2012 Richard Varga (o primeiro a sair da água) nadou quase que 1min mais rápido do que Javier Gomez o melhor nadador de 2011. E que Tyler Butterfield, o melhor ciclista em 2012, que tentou uma fuga solo para tentar alcançar o primeiro pelotão, pedalou em 58:32, quase 2 minutos mais rápido que o pedal de Ivan Rana, o melhor tempo de 2011 (Fonte: Site da ITU).

 

 Opinião do Treinador Rodrigo Langeani: Vários fatores interferem na capacidade do atleta em correr após a prova, entre elas a já citada Economia de Movimento, a estratégia de prova (atletas que se resguardam mais em outras modalidades tem mais energia pra correr), hidratação e nutrição na prova e cadência no ciclismo (atletas que pedalam em uma cadência mais próxima da cadência de passadas da corrida, correm melhor). E se algum brasileiro quiser ter chances de ganhar dos irmãos Brownlee no Rio 2016, é bom treinar e muito!

E você, o que acha?

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